domingo, 3 de janeiro de 2010

Alagoas bate o ES na disputa pela liderança do ranking de homicídios


Fonte: Século Diário
José Rabelo
De acordo com os dados oficiais divulgados no site da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (Sesp), o Espírito Santo fechou 2009 (dados atualizados até o dia 29 dezembro) com 1999 homicídios. Fazendo a projeção até o último dia do ano, e somando-se a esse número os homicídios omitidos pela Sesp, na verdade, morreram assassinadas no Estado 2081 pessoas em 2009. Mesmo considerando os dados oficiais da Sesp, 2009 supera 2008 em 41 homicídios. Por muito pouco o secretário de Segurança Pública e Defesa Social não tirou a liderança do estado de Alagoas. Com uma população de 3.156 milhões de habitantes (estimativa do IBGE para 2009), foram registrados em Alagoas 1959 homicídios (dados atualizados até 28 de dezembro) em 2009. Fazendo a projeção até o dia 31 de dezembro, o estado contabiliza 1975 assassinatos, número que confere a Alagoas a taxa de 62,5 homicídios por 100 mil habitantes.

O Espírito Santo, colado na bota de Alagoas, fechou o ano com 61 homicídios/100 mil. No entanto, se nos últimos dois dias do ano a taxa superar a média de 5,7 homicídios/dia (média de dezembro, 166 homicídios até 28/12), Rodney ainda tem chance de superar Alagoas na reta final. Para conseguir a marca inglória, é preciso que o Estado tenha fechado o ano com 2100 homicídios e Alagoas tenha conseguido reduzir suas médias nos últimos três dias de 2009. Líder ou vice, Rodney, mesmo manipulando os números, não conseguiu cumprir a promessa de reduzir, mesmo que minimamente, a taxa de homicídios no Estado.

Em 2008, o secretário esperneou quando o jornal o "Estado de São Paulo" publicou uma reportagem que apontava o Espírito Santo como líder em homicídios no Brasil. A reportagem indicava, com base nos dados do Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que a violência crescia vertiginosamente no estado capixaba enquanto diminuia em Pernambuco. O vizinho nordestino, que carregavam a mácula de reinar por anos seguidos na liderança da violência, passava o bastão indesejável para os dois estados (Espírito Santo e Alagoas) que corriam na contramão do País, que chegava à média de 25/100 mil.

Rodney, irritado com o tom das críticas, alegava que não maquiava números como outros secretários. Chegou a declarar à imprensa que o estado do Rio de Janeiro não contabilizava os homicídios decorrentes de confrontos com a polícia. Fez críticas também ao governo da Bahia, que segundo Rodney, manipulava dados.

Escolado, e vendo as taxas de homicídios nas alturas, Rodney resolveu mudar a metodologia das estatística em 2009. Em 2008, o secretário contabilizou as três categorias de homicídio: latrocínios, as mortes decorrentes de confrontos com a polícia e as lesões corporais que resultaram em mortes. Em 2009, porém, Rodney omitiu esses três dados. A ideia era de que o número de homicídios de 2009, reduzisse em relação a 2008 (1958 homicídios). Entretanto, nem subtraindo as três categorias Rodney conseguiu maquiar os 1999 homicídios registrados no ano passado. Somando-se a esse número a projeção dos dois últimos dias do ano e os dados omitidos, chegamos ao número nada modesto de 2081 homicídios no ano passado.

Em Pernambuco, a violência começou a desacelerar coincidentemente depois que Rodney foi rebaixado do posto de secretário de Defesa Social para o de secretário de Defesa Comunitária de Caruaru, e, em seguida, “devolvido” para o Espírito Santo. Com Rodney fora do caminho dos pernambucanos, o governo implantou o programa “Pacto pela Vida” e viu cair em mais de 11% a taxa de homicídio ainda em 2008. Pernambuco, onde Rodney não deixou saudades, deve fechar 2009 com a taxa de 45,9 homicídios/100 mil.

Serra: mais violenta que o Iraque

Não é preciso comparar os números da violência no Espírito Santo com os de outros estados para constatar que a situação capixaba é corrosiva. O município da Serra, por exemplo, encerra o ano com a lastimável marca de 97 homicídios por 100 mil habitantes, ou 392 assassinatos em 2009. Isso significa dizer que é mais fácil ser assassinado na Serra do que no Iraque. Com homem-bomba, mísseis rasgando o céu de hora em hora, atentados terroristas da Al-Qaeda e tudo mais, a média de homicídios no Iraque é de 70/100 mil.

Também com larga vantagem sobre o Iraque aparece Cariacica, com 93/100 mil; Vila Velha segue em terceiro no ranking das cidades mais violentas do Estado com 77/100 mil. Abaixo de 70 homicídios por 100 mil, mas ostentando números insuportáveis para os padrões brasileiros (média no Brasil é de 25/ 100 mil), aparece Viana (66,6); Guarapari (64,4); Vitória (49,3) e Fundão (43,7).

Os sete municípios da Grande Vitória juntos, que compreendem uma população de cerca de 1,6 milhão de habitantes (dados estimados do IBGE para 2009), respondem pela taxa média de 77 homicídios por 100 habitantes, marca que supera o Iraque, Afeganistão e Colômbia - países que estão em conflitos permanentes.

No interior do Estado a situação é ligeiramente melhor, ou menos pior, embora a taxa seja quase que o dobro da nacional: 45/100 mil. No Estado, as 2081 pessoas mortas violentamente em 2009, representam 61 homicídios por 100 mil habitantes.

Negros e pardos lideram estatísticas

Se as chances de perder a vida no Espírito Santo já são grandes para a população em geral, a situação fica ainda mais dramática para os negros e pardos. De acordo com os dados de homicídios de 2009, das 2081 pessoas mortas, 1575 eram negras ou pardas, ou seja, 82% das vítimas que foram identificadas pela polícia (a Sesp não informou a cor de 170 pessoas mortas em 2009). Os brancos mortos equivalem apenas a 13% das vítimas identificadas.

O corredor da morte no Espírito Santo se afunila ainda mais quando a vítima, além de ser negra ou parda, é jovem. Das pessoas assassinadas no ano passado, 58% (1025) tinham menos de 30 anos. Do total de mortos, 10% dos jovens tinham menos de 18 anos.

Os assassinos usaram arma de fogo em 61% dos casos para eliminar suas vítimas, 7% recorreram às armas brancas e o mesmo percentual utilizou outros recursos como objeto contundente, pedras, paus ou as próprias mãos para matar.

Embora o secretário Rodney Miranda tenha insistido em implantar a Lei Seca desde o início da sua gestão, como projeto salvador para reduzir os números da violência no Estado, as estatísticas revelam que quase 50% dos homicídios aconteceram durante o dia, das 6 horas da manhã às 6 da noite.

Rodney, quando assumiu a Secretária de Defesa Social de Pernambuco também anunciou a Lei Seca como seu mais importante projeto de combate à violência. O fiasco da passagem de Rodney pelo estado pernambucano pode ser explicado pela sua pífia trajetória. Depois de mal esquentar a cadeira à frente da Secretária de Estado, foi “rebaixado” para assumir o cargo de secretário de Segurança Comunitária de Caruaru. Mesmo trocando o Estado por um município de cerca de 300 mil habitantes, o secretário se mostrou igualmente incompetente para dar conta do recado. Tanto é que os pernambucanos deram graças a Deus quando o governador Paulo Hartung insistiu no erro de chamá-lo para assumir a pasta de Segurança pela segunda vez. Aliviados, os pernambucanos comemoraram o recuo dos índices de violência após a saída de Rodney. Enquanto o Espírito Santo continua disputando, cabeça a cabeça, a liderança dos homicídios, agora com Alagoas.

2010 chegou e, ao que tudo indica, Hartung dará mais uma chance para o secretário passar Alagoas de vez. A outra opção é enviar o curriculum de Rodney para o governador Teôtonio Vilela Filho.

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