sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Porque o SUS perde com os subsídios na saúde

Autor(es): Alexandre Marinho e Carlos Octávio Ocké-Reis
Valor Econômico - 28/10/2011


O Sistema Único de Saúde (SUS) é um modelo público universal, mas o perfil do nosso gasto público em saúde é parecido com o dos Estados Unidos, que é baseado em seguros de saúde privados. Por isso, o gasto público brasileiro em saúde é, em termos percentuais, menor do que o canadense e o australiano, que se destacam pela intervenção ativa do Estado.

No Brasil, considerando o baixo nível do gasto público, não surpreende que a despesa com planos de saúde tenha sido tão elevada - 23,7%) do total. Em particular, chama a atenção a proporção do desembolso das famílias com serviços médicos e medicamentos (29,2%), que ficou acima do caso americano em 2008, que foi de 12,1%

Estamos falando de sistemas diferentes, porém uma coisa parece comum a todos eles: a presença de subsídios - incentivos governamentais - que acabam patrocinando a rentabilidade do mercado de serviços de saúde e acabam socializando os custos da reprodução e manutenção da força de trabalho com os empregadores.

Em 2010 os planos faturaram R$ 72,7 bi mas não financiaram mais do que 5% das TRS e 5% dos transplantes

Então, considerando o gasto significativo das famílias mencionadas acima, duas opções, não exclusivas, estão colocadas para o governo federal: ou melhoramos a regulação dos preços de planos, medicamentos e serviços médicos para aumentar o bem-estar da população, ou melhoramos a qualidade dos gastos destinados ao mix público e privado para tornar o sistema de saúde mais eficiente (melhor alocação) e equitativo (melhor distribuição).

E para melhorarmos essa qualidade devemos perguntar se os incentivos governamentais favorecem o subfinanciamento do SUS e a privatização do sistema, incentivando as famílias a comprar planos de saúde. Resumindo, os subsídios voltados para promover o consumo prejudicam o setor público?

1- os prestadores de serviços médico-hospitalares são estimulados a trabalhar para o sistema privado, que é mais lucrativo, reduzindo a disponibilidade da oferta de serviços públicos;

2- apenas cerca de 30% dos servidores de nível superior trabalham em horário integral. Isso reduz o comprometimento com o SUS e dificulta o planejamento dos serviços de saúde;

3 - os prestadores médico-hospitalares não são incentivados a reduzir as longas filas de espera nos serviços públicos, dado seu interesse, consciente ou não, em aumentar a demanda por serviços privados;

4 - os subsídios para o setor privado acabam aumentando, de uma maneira descontrolada, a procura global por serviços de saúde, duplicando muitas vezes a oferta de serviços;

5 - os doentes idosos e crônicos são, na prática, expulsos do mercado, quando mais precisam, devido aos preços elevados dos prêmios dos planos de saúde, e têm de ser atendidos pelo setor público;

6 - os subsídios acabam determinando que os agentes privados - e não o governo - definam o montante total do gasto público em saúde;

7 - os receptores dos subsídios estão nos estratos superiores de renda, o que piora a regressividade tributária e o quadro de desiguladade em saúde no país.

A renúncia de arrecadação fiscal alcançou R$ 12,5 bilhões em 2006, magnitude equivalente a 30,6% do gasto público federal. Esse montante é superior aos R$ 7 bilhões, valor da estimativa de perda caso a regulamentação da Emenda Constitucional 29 fixe o gasto dos Estados com saúde com a exclusão do Fundeb.

A eliminação progressiva, ou o estabelecimento de um limite dos subsídios, parece uma alternativa crível para incremementar o financiamento do SUS. Vejamos o exemplo dos pacientes com insuficiência renal crônica (IRC).

Existem duas terapias mais ou menos substitutas para IRC: a terapia renal substitutiva (TRS) e os transplantes de rim.

As TRS custaram ao SUS, no ano de 2010, R$ 1,6 bilhão. A hemodiálise é a TRS mais frequente e cobre 70 mil brasileiros. Assim, a TRS possui o maior orçamento dentre os procedimentos ambulatoriais de média e alta complexidade, crescendo sua quantidade ao longo dos anos. Porém, apenas 10,3% dos 18.780 equipamentos de hemodiálise pertencem ao Estado Brasileiro, cabendo ao setor privado, contratado pelo SUS, 83,3% desses equipamentos. Consequentemente, o SUS paga 95% do custo total.

As TRS podem, em grande medida, ser substituídas por transplantes de rim, que oferecem melhor qualidade de vida para os transplantados e melhor custo-efetividade para a sociedade. Por lei, os ditos planos de saúde novos não podem excluir os transplantes de rim dos procedimentos oferecidos nos planos com internação hospitalar, mas, no ano de 2010, o SUS financiou, sem ressarcimento, 95% do custo total dos transplantes de rim (R$ 90 milhões) e dos transplantes de órgãos sólidos (R$ 1 bilhão).

A rigor, as institutições privadas lucrativas contratadas pelo SUS não têm interesse em colocar seus pacientes nas listas de transplantes, apesar do tempo excessivo em diálise comprometer a saúde dos pacientes e o resultado dos transplantes. Pior: ano passado, os planos de saúde - favorecidos pela renúncia de arrecadação fiscal - tiveram um faturamento de R$ 72,7 bilhões e venderam planos para 25% da população brasileira, mas não financiaram mais do que 5% das TRS e 5% dos transplantes. Somados, TRS e transplantes de órgãos custam mais de R$ 2,6 bilhões ao SUS, anualmente.

Nesse quadro, a despeito dos recordes históricos de crescimento da demanda por planos de saúde, não vislumbramos a contrapartida de compartilhamento de custos do segmento privado subsidiado e financiado pelo SUS.

Alexandre Marinho é pesquisador do Ipea e professor da UERJ.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Ainda falta muito no saneamento básico

O Atlas do Saneamento, recentemente divulgado pelo IBGE, trouxe um quadro ainda desanimador. Entre os serviços básicos, os índices relativos ao fornecimento de água para consumo humano, coleta e tratamento de esgotos, drenagem ficam muito aquém daqueles já atingidos em energia elétrica e telecomunicações, por exemplo. 

Os números se referem a 2008, mas dão uma ideia do desafio que se tem pela frente: 90% dos municípios brasileiros declaravam não possuir meios de conter as águas das chuvas; 23% deles precisavam conviver com racionamento em períodos de estiagem; e 44,8% não coletavam esgotos. 

Já o Instituto Trata Brasil, avaliando dados de 2009 referentes às 81 cidades brasileiras com mais de 300 mil habitantes, concluiu que 66 atendiam 80% ou mais dos seus habitantes (sendo que apenas vinte declararam chegar a 100% da população) com fornecimento de água, e 15 ficavam abaixo desse patamar. 

No caso da coleta de esgotos, o índice médio foi de 57% da população, sendo que 38 das 81 cidades declararam chegar a 80% (é o caso do Rio de Janeiro, com 93%). Em apenas três (Belo Horizonte, Montes Claros e Porto Alegre) atribuiu-se 100% de coleta. 

Quanto ao tratamento de esgotos, o índice médio foi de 39% do volume coletado, um avanço lento em comparação a 2003 (7,8 pontos percentuais). Embora nacionalmente os índices avancem devagar, em alguns locais houve melhorias recentes consideráveis. Alguns municípios da Baixada Fluminense, como Duque de Caxias, Nova Iguaçu e São João de Meriti, apareciam com índice zero de coleta e tratamento de esgotos na pesquisa de 2009. 

Porém, esta semana, a Cedae finalmente conseguiu inaugurar redes coletoras e a estação de tratamento de Sarapuí (construída há doze anos, e que estava inoperante). A estação se encontra apta agora a tratar, tanto de forma primária, com retirada de resíduos sólidos, como secundária (eliminando 98% da carga poluente), 1.000 litros de esgoto por segundo. Esta capacidade será ampliada gradualmente para 1.500 litros por segundo. 

A estação de Sarapuí contribui para que 6 mil litros de esgoto sejam tratados por segundo. Há poucos anos, menos de um terço desses esgotos era tratado, e o restante, despejado in natura na Baía de Guanabara. A meta estadual é atingir 14 mil litros de esgotos por segundo até 2015, na região. Com enorme atraso, o programa de despoluição da Baía de Guanabara fará sentido, e o Estado do Rio poderá se aproximar da meta estabelecida em seu pacto pelo saneamento (80% de esgotos tratados até 2020, em comparação aos 76% hoje coletados). 

Esses avanços locais são observados em mais regiões do país. Santos ocupou o primeiro lugar no ranking do saneamento estabelecido pelo Instituto Trata Brasil, com os dados de 2009. Niterói, que tem esses serviços sob responsabilidade de uma companhia privada, é a cidade fluminense de grande porte mais bem colocada no ranking (nono lugar), o que deve ser motivo de reflexão. Porto Alegre, com o saneamento sob administração municipal, tratava 39% dos esgotos em 2008 e espera chegar a 87% antes da Copa do Mundo. fonte: O Globo - 27/10/2011

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Hacker invade blog do Palácio do Planalto

Invasor reproduziu foto da Marcha Contra a Corrupção e, em frase, pediu a aplicação do Ficha Limpa e voto aberto no Congresso; página foi normalizada por volta das 9h

Acima da foto, na qual manifestantes aparecem em Brasília realizando um ato contra a corrupção (vassouras simbolizando uma faxina no país), aparece a seguinte frase: "POLITICO DEVE SER ÍNTEGRO, INCORRUPTÍVEL ! FICHA LIMPA JÁ! VOTO ABERTO NO CONGRESSO". Esse ato em Brasília foi um dos vários ocorridos nessa quarta-feira, 12, em algumas capitais, após os internautas agendarem o protesto via redes sociais.

Nas mensagens postadas pelo invasor, aparecem trechos de músicas de Raul Seixas. O hacker também faz um apelo e diz: "Brasileiros, acredite em vocês, Salvem o BRASIL !"

De acordo com a Secretaria de Comunicação da Presidência da República, a página do blog foi normalizada às 8h57 e a equipe técnica do Dataprev (Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social) ainda investiga de onde partiu o ataque. A assessoria de imprensa da empresa informou que a base de dados do blog não foi danificada.

Histórico. Em junho, sites oficiais foram alvos de ataques virtuais em série. Ações, reivindicadas por grupos de internautas, deixaram foram do ar páginas oficiais da Presidência da República, Receita Federal, Portal Brasil, Petrobras e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

sábado, 8 de outubro de 2011

Médicos pedem fim de exame de sangue para câncer de próstata

Um dos métodos mais usados para a detecção do câncer de próstata, o PSA (antígeno prostático específico, na sigla em inglês), não deve mais ser usado em homens saudáveis.

A recomendação é do US Preventive Services Task Force, grupo cientistas e pesquisadores influentes ligado ao governo americano, e foi baseada em cinco testes clínicos bem controlados.

"O teste não consegue mostrar a diferença entre tumores que irão ou não afetar um homem durante sua vida. Nós precisamos encontrar um que o faça", disse Virginia Moyer, da Baylor College e líder do grupo.

O PSA detecta a elevação de uma proteína produzida pela próstata e é um indicativo de câncer. O método, porém, é criticado por dar falsos-positivos.

Uma dosagem alta de PSA, no entanto, também pode ser sinal de uma infecção ou crescimento benigno exagerado da próstata.

Com a sua popularização, as consequências devastadoras das biópsias e dos tratamentos que geralmente lhe são subsequentes começaram a aparecer.

De 1986 a 2005, 1 milhão de homens foram tratados com cirurgia, radioterapia (ou ambos), o que não aconteceria sem o PSA.

Entre eles, dizem os pesquisadores, pelo menos 5.000 morreram logo após a cirurgia e entre 10 mil e 70 mil outros sofreram complicações sérias.

Pelo menos a metade apresentou frequentemente sangue no sêmen, além de muitos terem incontinência urinária ou impotência.

"Nós estamos desapontados. A questão é que esse melhor teste que nós temos, e a resposta não pode ser simplesmente 'não faça o exame'", diz Thomas Kirk, líder do Us Too, um dos maiores grupos de apoio à doença.

Para os pesquisadores, não saber o que está acontecendo na próstata pode ser o melhor caminho.

Estudos em autópsias indicaram que um terço dos homens entre 40 e 60 anos têm a doença. Uma proporção que sobe para três quartos na faixa acima de 85.

A recomendação é válida apenas para homens saudáveis e sem sintomas. Os pesquisadores se pronunciaram se o teste é apropriado para homens que têm sintomas suspeitos da doença ou que já foram tratados contra ela. Allison Stokke Fonte: Correio do Estado

Fatos e mitos sobre o mau hálito

O mau hálito vem do estômago? Mascar chiclete melhora? Se eu escovar os dentes passa?

O mau hálito, ou halitose, normalmente é motivo de gozação. Mas, ao contrário do que muitos imaginam, ele pode sinalizar doenças importantes. E, pior, a maioria dos portadores de halitose não percebe o problema. “O nariz acostuma-se com o odor e deixa de percebê-lo. Por isso não adianta improvisar nenhum tipo de teste em si mesmo”, diz Marcos Moura, presidente da Associação Brasileira de Halitose (ABHA). A entidade criou até um serviço que avisa, por email ou carta, quem possivelmente está com o problema, o SOS Mau Hálito. Basta uma pessoa próxima entrar no site e fazer o pedido. Há cinco anos no ar, o serviço recebe cerca de 130 pedidos por mês de pessoas com vergonha de mandar o recado pessoalmente. “O mau hálito ainda provoca muito constrangimento social. Até mesmo quem tem intimidade com o paciente, como namorada, cônjuge, irmãos e filhos, muitas vezes evita falar abertamente sobre o assunto”, afirma Celi Vieira, cirurgiã-dentista.

A maioria das pessoas acha que o mau hálito tem origem no estômago, mas apenas 1% dos casos é ligado a ele. “Apesar de ser atribuída a vários fatores – desde estresse até doenças do aparelho digestivo –, cerca de 90% dos casos de halitose têm origem na boca”, diz a dentista. Os outros 10% podem estar ligados a distúrbios digestivos, metabólicos, hormonais, hepáticos, renais e nas vias aéreas superiores, além da falta de vitaminas. A origem também pode ser uma doença que gere compostos leves facilmente eliminados pela expiração (como insuficiência renal), alterações sistêmicas que promovam desvios no padrão salivar (como a Síndrome de Sjogreen), ou medicações que diminuem a quantidade de saliva, o que pode aumentar a concentração de substâncias à base de enxofre na boca. E infelizmente a higiene bucal não impede o mau hálito nesses casos. O dentista especializado em halitose é a pessoa mais indicada para prescrever o tratamento quando a origem está na cavidade bucal. Mas outro profissional de saúde pode ser mais apropriado para tratar as outras causas.

De acordo com uma pesquisa feita pela ABHA, cerca de 30% da população brasileira têm halitose crônica ou ocasional – próximo de 60 milhões de pessoas. “Nem sempre quando uma pessoa acha que está com mau hálito ela realmente está sofrendo de halitose”, afirma Celi. Essa condição pode ser passageira, como ficar muito tempo sem comer ou beber água, ou ter comido alimentos que acentuam o hálito ruim, como alho, cebola, pimenta ou peixe cru. Quando passageiro, o problema acaba com a higienização oral. O portador de halitose já se acostumou ao odor e precisará que alguém que o cerca o conte. “Daí a importância da sinceridade dos mais próximos para corrigir o problema”, diz Celi. Segundo ela, minimizar a queixa de uma pessoa que sente o próprio hálito alterado só piora. “Mesmo que só ela sinta, isso já é o suficiente para afetar sua qualidade de vida. Geralmente, essas pessoas sofrem muito mais do que o portador de halitose real”, afirma. Abaixo, como evitar a halitose.

Como evitar o problema

• Além de escovar os dentes depois das refeições, use fio dental para remover o alimento que possa ter ficado entre os dentes. Isso evita a proliferação das bactérias.
• Higienize a língua. Quando a crosta esbranquiçada que reveste a parte superior da língua (saburra) for espessa, use um limpador apropriado. Quando for fina ou invisível, limpe delicadamente com uma gaze.
•Balas e chicletes não mascaram o mau hálito. Os produtos que contêm açúcar podem acabar estimulando a produção do ácido produzido pelas bactérias– o que causa mau hálito e cáries.
• Beba muita água e evite bebidas alcoólicas e com cafeína, como café, chá preto, chá verde e mate. Álcool e cafeína, quando consumidos em grande quantidade, têm a propriedade de deixar a boca seca, criando um ambiente favorável às bactérias causadoras de cáries e mau hálito.
• Evite comer doces entre as refeições e, principalmente antes de dormir, já que a quantidade de saliva diminui durante o sono, contribuindo para piorar o hálito.
• Alimentos à base de derivados de leite, carne vermelha e de peixe favorecem a alteração do odor bucal. Eles devem ser comidos com moderação. Por outro lado, inclua mais frutas e vegetais crus à sua alimentação – como cenoura, pepino e erva-doce.
• Procure um dentista a cada seis meses para fazer a limpeza dos dentes e identificar cáries, infecções e outros problemas que podem contribuir para a halitose. Fonte: Época (Laura Lopes)

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Ele sabe mais do que você pensa

Facebook sabe o que você faz na rede mesmo após o logout. É possível pedir dados recolhidos sobre você e bloquear a espionagem

Nada fica para trás. Os relatórios têm centenas de páginas com informações. Os PDFs mostram todo o histórico de notificações, amigos desfeitos e acessos à rede
Que o Facebook é fofoqueiro todo mundo sabe. Basta passar um tempo na rede social para perceber que todos sabem o que todo mundo faz – e essa é, afinal, um dos motivos da graça de estar ali. Ao entrar no Facebook, as pessoas sabem que estão deixando a sua privacidade de lado – o problema é que isso pode estar indo muito além do esperado. Você realmente sabe o que o Facebook sabe sobre você?

Um hacker australiano chamado Nik Cubrilovic descobriu que o Facebook rastreia usuários mesmo após o logout. Um dos segredos do sucesso da rede social é sua ligação com outros sites. Desde que os botões Curtir e Compartilhar foram espalhados pela web e outros sites começaram a conectar-se à rede social pelo Facebook Connect, a web aos poucos foi sendo levada para dentro da rede social. Você curte uma notícia, aquilo vai para o seu perfil, e todos ficam sabendo daquela sua interação.

Essa ligação fez o Facebook se espalhar pela internet, e vice-versa. E, para os usuários, é interessante saber qual dos seus amigos curtiu determinada notícia. Só que apenas uma pequena parcela dos usuários sabem que, por causa dessa ligação, o Facebook tem acesso a todos os seus passos online: o navegador envia constantemente informações dos usuários para o Facebook através de cookies, arquivos que armazenam dados de navegação que permitem a ligação com outros sites. Isso já acontece quando o usuário está logado na rede e, agora, descobriram que o Facebook também pode seguir sua navegação mesmo após o logout.

Segundo Cubrilovic, o Facebook não apagava os cookies de rastreamento após a saída do usuário da rede. Ao se deslogar da rede, os cookies continuam mandando requisições aos servidores do Facebook.

“Mesmo se você se deslogar, o Facebook continua sabendo e pode rastrear todas as páginas que você visita”, escreveu Cubrilovic em seu blog. “O Facebook está apenas alterando o estado dos cookies, em vez de removê-los quando o usuário se desloga. Se eu visitar qualquer página com o botão de curtir ou qualquer outro widget, a informação, como o ID da minha conta, continua sendo enviado para o Facebook.”

O Facebook consegue saber todos os usuários que se logaram em determinada máquina ou browser. “O Facebook argumenta que os cookies que eles preservam poderiam impedir que spammers e usuários menores de idade criem contas. Porém, os usuários maliciosos poderiam facilmente limpar seus cookies, enquanto o Facebook expõe o resto de seus usuários ao rastreamento indesejado”, diz Brian Kennish, o desenvolvedor responsável pela extensão Facebook Disconnect, que promete eliminar os rastros de navegação da rede de Mark Zuckerberg.

Um funcionário do Facebook respondeu a Cubrilovic, por meio dos comentários do blog, dizendo que a rede “não tinha interesse em monitorar as pessoas”. A resposta oficial chegou dias depois: o Facebook diz usar cookies para plugins sociais para personalizar conteúdo ou para segurança. E o rastreamento indevido após o logout foi causado por uma falha em três cookies, que foi resolvida.

“O argumento é fraco”, diz Brian Kennish, que além do Facebook Disconnect criou um série de plugins para bloquear o rastreamento. “Estudos mostram que, quando as pessoas entendem exatamente o rastreamento online, a maioria (cerca de 80%) não quer ser rastreada. Eu acho que as pessoas estão aos poucos pedindo mais controle de seus dados”, diz Kennish.

Para ele, a recomendação para proteger-se é que o usuário compartilhe apenas os dados que deseja que sejam públicos, e use ferramentas que ajudam a preservar sua privacidade – como as inventadas por ele. “O Facebook Disconnect previne que os plugins sociais do Facebook apareçam em sites e mandem a informação sobre o que você está lendo, assistindo ou ouvindo de volta para o Facebook”, explica Kennish.

O desenvolvedor tem um perfil no Facebook, mas não confia nos mecanismos de privacidade da rede social. Em vez disso, ele só posta informações que podem se tornar públicas. Não se esqueça: Facebook não esquece nada, nem a sua navegação e nem mesmo as cutucadas que você um dia levou.

1.000 páginas
A organização Europe versus Facebook (leia entrevista) defende que os usuários tenham acesso aos dados armazenados. Ela foi formada por três europeus estudantes de direito que, depois de estudar nos EUA, se assustaram com a maneira como os dados pessoais são usados pelas empresas por lá. Eles descobriram que o Facebook armazena mais de 50 dados, família, mensagens apagadas, amigos desfeitos e cutucadas. A sede internacional do Facebook fica na Irlanda. Por isso, é regulada pela lei europeia sobre proteção de dados. Ela prevê que o Facebook entregue em no máximo 40 dias um CD com os dados pessoais que coleta. Vários usuários já fizeram o pedido. Os dados estão no site da entidade e os PDFs dos arquivos chegam a mais de mil páginas.

fonte: Estadão (Por Tatiana de Mello Dias)

domingo, 2 de outubro de 2011

Arrecadação cresce e deve levar carga tributária a recorde de 36,5% do PIB

Concentração de ganhos pode explicar crescimento; grupo de dez segmentos, liderado pelo setor financeiro, é responsável por 72% do aumento

IRANY TEREZA / RIO - O Estado de S.Paulo
A carga tributária - relação entre arrecadação de impostos e a produção econômica - deve fechar o ano em 36,5% do Produto Interno Bruto (PIB), calculam os economistas José Roberto Afonso e Marcia Monteiro Matos no estudo "Termômetro Tributário Brasileiro", concluído esta semana. Trata-se de um recorde. Pela mesma base de cálculos, em 2010, quando a economia e a arrecadação cresceram muito, a carga ficou em 35,16% em 2010. Em 2009, havia sido de 34,68% do PIB.

O recorde parece contraditório com o atual momento de esfriamento da economia, quando muitas empresas diminuem a produção, os ganhos e a arrecadação de impostos. E vai na contramão do discurso governamental, de cortar impostos para elevar a competitividade das empresas e reduzir a alta carga de tributos que pesa sobre os consumidores.

A alta da carga tributária pode ser explicada em grande parte por um crescimento excepcional dos ganhos de dez segmentos que respondem, este ano, por 72% do aumento da receita de arrecadação federal de impostos. O grupo inclui comércio atacadista e varejista, fabricação de veículos, construção de edifícios e telecomunicações.

No topo da lista, está o setor financeiro (bancos, seguradoras e entidades de previdência privada), que, sozinho, explicou 27,5% do ganho total de receita. O segundo setor que mais contribuiu, o de extração mineral, chegou a recolher na primeira metade deste ano o dobro do que fez no início do ano passado, mostra o levantamento. Juntos, os dez setores cresceram 26%, contra 8% nos demais segmentos.

"Este desempenho tão díspar da arrecadação federal refletiria uma economia dual: um lado cresce em ritmo chinês, outro cresce em padrão latino tradicional", diz o trabalho. Excetuando-se o grupo dos "dez mais", a grande maioria dos contribuintes teve crescimento de receita em torno de metade da expansão geral.

"O que está puxando a carga tributária em 2011 é a receita federal clássica. Mas não é uma coisa homogênea, igualmente distribuída na economia", diz Afonso, especialista em finanças e economista do BNDES. O "termômetro tributário" foi elaborado com base em estatísticas de arrecadação, até agosto, divulgadas pela Receita, pela Previdência e pelo Confaz, e no acompanhamento do PIB pelo Banco Central.

O resultado se aproxima do que está sendo calculado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), que aponta para uma relação entre arrecadação e PIB de 36,04%. "Estamos caminhando para um recorde, sem dúvida", diz Gilberto Luiz do Amaral, coordenador de estudos do IBPT.

Ele lembra que, apesar de o peso das pessoas físicas representar apenas 25% do recolhimento de tributos, é sobre o consumidor que recai o maior ônus da carga tributária. "As empresas são arrecadadoras, mas repassam os custos ao consumidor", comenta.

Marca histórica. O IBPT calcula, para a Associação Comercial de São Paulo, o Impostômetro, acompanhamento diário de quanto o brasileiro paga de impostos. Desde meados do mês passado, o valor ultrapassa a marca histórica de R$ 1 trilhão no ano. O instituto utiliza o mesmo princípio do "termômetro tributário", que considera royalties, juros de mora e dívida ativa como tributos.

A diferença de metodologia entre os cálculos oficiais e medições paralelas provocam disparidades. Afonso ressalta que, mais importante do que a dimensão da carga tributária, é a evolução retratada. E esta caminha de forma bem semelhante, qualquer que seja o procedimento adotado. Fonte: Estadão